A vista
aérea que eu tinha daquele lugar, mostrava apenas que estávamos mais perto do
meu destino... Nessa hora um misto de ansiedade e tristeza me invadiu... Senti
medo... Angústia... Saudades... e até arrependimento... Me perguntei enquanto
observava a chuva caindo através da janela do avião, se aquela teria sido mesmo
uma decisão sábia. Alguém ali em algum lugar me esperava... Tudo aquilo seria
pra mim tão novo, mas por que eu me sentia tão velha? Quem sabe fosse pelo nome dos meus antepassados, agora mortos, que eu carregava...
- ‘Morton’
– Saiu quase como um sussurro...
Nunca
havia conseguido associar o meu sobrenome a outra coisa que não fosse à morte...
E isso me foi sempre tão peculiar...
Aos poucos Bridge ia tomando forma... A tempestade que caia, na noite de
minha chegada, me impedia de vê com nitidez, suas luzes e seus milhares e
milhares de prédios e arranha-céus, aquele deveria ser um lugar bem agitado!
Como eu viveria ali? Não sei... E minha vontade em descobrir, era praticamente
nula até então, mas uma vez que havia sido esta minha escolha, não restava
dúvida... Agora só precisava recomeçar.
Como? Quando? Por onde? Respostas para essas e outras perguntas, com
certeza viriam com o tempo.
As
4:30 da manha eu já havia desembarcado no meu destino... Um velhinho gentil que
atendia pelo nome de ‘Dr. Sullivan’ me recebeu com as chaves de um conversível
na mão... Pouco sabia dele, a não ser do seu nome e que se tratava do mesmo Sr.
que meses atrás havia me ligado para informar que com a morte de meus pais eu
havia me tornado única herdeira dos Morton’s. Naquela momento, eu e o ‘Sr.
Gentil’ não dispomos de tempo pra conversar sobre qualquer outro assunto, mas... A julgar pela preocupação em me esperar àquela hora, acredito que o
verei novamente em breve. Por hora, me sentia exausta, eu só queria o ‘meu
lugar’ ali, lençóis quentinhos e de repente, colo.
A chuva que tinha cessado, voltou a dá os primeiros indícios de que não me daria uma trégua tão cedo, o GPS
indicava que logo estaria em casa. Quando saí da estrada, o dia já começava a mostrar os seus primeiros sinais de claridade, e a chuva os seus de que logo teriamos um temporal pela frente, entrei numa
espécie de caminho sinuoso, onde a única coisa que eu conseguia enxergar eram
as poças de água que iam se formando em minha frente, por um instante eu pensei
que tivesse seguido a direção errada. Haviam árvores por todos os lados, o frio
conseguia congelar ainda mais o meu coração, aquela deveria ser a parte
tenebrosa da cidade...
O vento soprava forte indicando que logo teríamos
uma tempestade, inutilmente tentei subir a capota, mas alguma coisa parecia impedir
- Maldita! – Meu acesso de raiva foi interrompido de repente, quando ví surgir magicamente
em meio a todo aquele arvoredo um casarão imenso e ao longe a figura de
alguém, que parecia me esperar na entrada. Nessa hora a chuva começou a cair mais forte!
-
Bem a tempo!
O portão da garagem se abriu... Ele fez um pequeno gesto indicando
o caminho com uma das mãos, um pouco antes de sumir em meio à escuridão que
fazia ali fora.
Estacionei e tateei o banco
do passageiro a fim de encontrar o guarda-chuva que lembrei tê-lo deixado ali,
logo que entrei no carro ao desembarcar. O mesmo que o ‘Sr. Gentil’ havia me
entregue, juntamente com as chaves do carro e as seguintes palavras: “Tome! Ainda teremos muita água por hoje, creio que vá precisar!”
Desci
do carro e me dirigi ao interior da casa.
Fiquei surpresa ao abrir a porta e me deparar com o mesmo homem que
estava a minha espera na chegada, por onde ele tinha entrado? Bem... Isso
depois eu descobriria... Mas essa, pra não dizer ‘ele’ era toda minha recepção.
Antes que eu pudesse lhe
perguntar alguma coisa ele, deu alguns passos em minha direção.
-
Senhora Morton... Seja bem vinda!
- Obrigada! - respondi - Como devo chamar-lhe?
- Bertrand, Senhora.
- Pode mostrar-me onde fica o meu quarto Bertrand?
- Mas é claro Senhora! Acompanhe-me, por favor.
Subindo as escadas, a direta no fim do corredor... Essa era a
localização... Diante da porta ele parou antes que eu pudesse entrar.
-
Aqui estamos! Este é o seu quarto, Senhora! Espero que esteja tudo conforme o
seu gosto!
Eu
ia falar qualquer coisa, mas antes de fazê-lo ele voltou a me interromper.
- Sinto
não ter preparado nada para o jantar, mas não sabia ao certo a hora em que
chegaria, talvez esteja faminta, prometo compensar-lhe com um café da manhã
reforçado, se preferir ainda posso preparar-lhe alguma coisa.
- Não se preocupe com isso Bertrand, não estou tão faminta, só estou
cansada...
- Devo retirar suas malas do carro Senhora?
As malas!!! Eu havia esquecido as malas!!!
As malas!!! Eu havia esquecido as malas!!!
- Ah Sim... Faça isso, por favor, mas não se incomode comigo, não
creio que precise de tantos cuidados.
- Sim, Senhora.
Disse isso e
retirou-se...
Então
aquele era o meu quarto... Há quanto tempo àquela mobília estava ali? De
qualquer forma... Os lençóis estavam impecáveis, um cheiro gostoso perfumava o
ambiente... Em outros tempos, de quem teria sido aquele quarto?
Eu precisava de um banho, Bertrand ainda não havia subido com as
malas... Deixei a porta do quarto entreaberta, para o caso dele aparecer e fui até
o banheiro. enquanto enchia a banheira, ouvi um barulho, devia ser ele... logo
constatei.
- Precisa de mais alguma coisa, Senhora?
- Não... Nada... Obrigada, feche a porta ao sair. – Respondi ainda de dentro do banheiro.
Depois do banho, a única coisa que eu precisava naquele momento era do conforto do meu
quarto, e se possível fosse, algumas horas de descanso, senti como se tivesse
tirado um peso de minhas costas devido a viagem e toda exaustão que eu trazia
comigo desde Champ Le Sims, não demorou muito até que eu caísse em sono
profundo...