Acordei com a luz do dia entrando pela janela
do quarto, o relógio marcava 10:00 horas. Eu precisava levantar me vestir,
ainda tinha o almoço com o Dr. Sullivan.
Que coisas importantes seriam estas?
O dia estava tão lindo e convidativo!
Era fim de outono, lá fora as arvores soltavam
suas últimas folhas avermelhadas, formando assim um maravilhoso cenário.
Lamentavelmente isso era prelúdio de inverno.
- Inverno... Murmurei, enquanto procurava na cômoda alguma
coisa pra vestir.
Ouvi passos se aproximarem da porta.
- Menina Morton?
- Avise que já estou descendo Bertrand. – respondi sem
dúvidas de que se tratava da chegada do Dr. Sullivan .
Dei
um jeito no cabelo, vesti uma roupa ‘mais alegre’ e desci.
- Então é assim que minha queridíssima amiga
pretende me encontrar?
- Jéssica! – ela interceptou meu abraço.
- Tem noção de como eu estava ansiosa com sua
chegada, pra de repente simplesmente isso acontecer e você nem pra me procurar?
- Jéssica... Olha, só tem uma semana que eu
cheguei...
- Sem mais, ta? Isso não se justifica.
- Você pode só me ouvir?
Ela deu-me as costas distanciando-se, antes de consentir
que ‘sim’ com a cabeça. Parecia furiosa... Mas conhecia-a o suficiente a ponto
de saber que este era o seu jeito de demonstrar que estava magoada, e ela tinha
razão...
Me aproximei dela.
- Desculpe... Eu errei contigo, mas você precisa me
ouvir, eu sei que não deveria, mas neste caso há defesa e eu vou me defender.
Então
ela virou-se, dando me a chance de continuar.
- Só você sabe de como foi difícil largar tudo
em Champ le Sims e vir pra cá, só com
você eu contei, você foi uma das principais razões para ter vindo, e você sabia
disso. Sabia também que não seria fácil no começo, e ainda não está sendo
fácil. Mas eu não podia simplesmente me apoiar em você.
- Você não entende? Você não estaria se
‘apoiando’ em mim, estaria contando comigo! Há uma grande diferença entre ambas
as coisas.
- Posso te dar um abraço agora?
- Sua boba! - Ela sorriu com os olhos.
Éramos assim, sempre... Eu não sabia como era
ficar ‘brigada’ com ela por muito tempo, eu não tinha uma personalidade muito
fácil, mas a Jessica parecia entender e se encaixava tão bem em minha vida que
parecíamos univitelinas.
Foi uma amizade
que me veio assim, do nada e do nado ficou, quando muitos eu não fiz nenhuma
questão que ficasse... Vivia tão focada em meu trabalho na época, e a ‘moça de
Barnacle’ em busca do vestido de noiva perfeito naquele fórum de moda Francesa,
me chamou atenção. Vivi o sonho dela! Que infelizmente não durou muito.
O
casamento precipitado chegou ao fim sem uma lágrima, uma mágoa, um
arrependimento se quer. Ela já contava comigo e eu já contava com ela. E por
mais agitado que fosse o meu dia, eu sempre encontrava tempo de dividir com ela
pelo menos 20 minutos dele. E foi assim até quando ela decidiu vir para Bridge,
morar na companhia do irmão.
- Fica pra almoçar?
- Sabe que vontade não me falta? Não pela fome, mas pela companhia... É tão
bom ter você aqui!
- Então... Fica! Almoça comigo!
- Não dá! Tenho que correr para o trabalho, ou
é demissão na certa. E não queremos isso... Certo!?
- Tudo bem vai. Me liga assim que tiver uma
folga no trabalho. Aliás, me liga quando
sair do trabalho.
- Por que não marcamos algo hoje à noite? Uma
espécie de despedida...
- Despedida?
- É... Eu, você... O And... Ele está saindo de
férias amanhã ou depois, não sei quando volta.
Nisso o celular dela tocou...
- Falando nele...
Bertrand entrou na sala para avisar que o Dr. Sullivan
havia chegado.
- Me dá dois minutos?
Quando Bertrand saiu da saleta ela já havia
desligado o telefone
- Que cabeça a minha! Você com visitas e eu
aqui tomando seu tempo!
- Você
não esta tomando meu tempo sabe disso, também temos muitas coisas pra conversar,
não tem ideia das loucuras que me aconteceram desde que cheguei. Pena que eu
não disponha de tempo agora ou ia acabar te alugando por alguns dias...
- Isso só será possível quando o And viajar... Essa
preocupação dele em me deixar sozinha me irrita às vezes, dá impressão que eu
não sei me cuidar.
- Você sempre tão exagerada!
- ‘Isso por que você não tem um Andrew em sua vida’!
- Ah não... Isso não!
Ela sorriu beijando-me um lado do rosto.
- Duvido que você ainda fale desse jeito quando o
conhecer.
- Quem sabe?
- Até a noite.
- Até a noite então. – respondi.
Naquela tarde almocei na companhia do Dr.
Sullivan, aquele velhinho simpático que havia me recepcionado no dia de minha
chegada. Sabia que hora ou outra acabaríamos nos encontrando novamente, só não
imaginei que fosse tão rápido.
Terminado o almoço e após uma deliciosa torta de limão servida por
Bertrand, fui com ele até a saleta, a fim de tomar conhecimento em parte de
tudo aquilo que eu herdara e que pouco me importava, não estava ali pelas
propriedades, ou bens adquiridos, mas pela memória de meus antepassados, eu era
a ‘única’ de todo um legado. E esse peso caía sobre mim com a força de várias
gerações.
- Esse é apenas um de nossos muitos e futuros encontros
Srta. Morton, alguma dúvida, não exite em chamar.
- Creio que por hoje, por hora... Já saiba o suficiente.
Obrigada.
- Espero que esteja bem instalada, que tenha gostado da
propriedade.
- É uma bela casa! A visão da parte de trás, e
maravilhosa e a cachoeira me encanta, ainda assim preciso de um tempo até me
adaptar a estas paredes.
Ele
olhou em volta e sorriu, provavelmente compreendia as razões.
Nossa reunião durou cerca de 2:30, e embora
maçante, me foi proveitosa, Bertrand muito atencioso, não deixou que nos
faltasse nada. E como todo bom Mordomo acompanhou o Sr. Sullivan até a saída.
Enquanto eu voltava à imensidão do meu ‘nada’.